Durma Com Este Barulho
Reflexões de um pecador

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Enquanto a chuva molha meu rosto



Porque nem mesmo compreendo o meu próprio agir, pois não faço o que prefiro,
e sim o que detesto [...] pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo.
Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço.
(Rm 7:15-19)


O galo cantou, não tive coragem de olhá-lo nos olhos, me virei e fugi!
Corri! Corri com a minha vida, tristeza e arrependimento em meu coração,
um peso amargo, lágrimas escorriam, meus olhos embaçados, mal conseguia enxergar,
mas eu não parei de correr.

Finalmente achei um canto, me escondi, queria morrer ali, terminar tudo naquele lugar.
Imaginei algumas possibilidades, pensei em como tudo ficaria melhor sem eu.

Que foi que eu fiz? Como pude?
Logo eu, que vi tantas coisas, tantas maravilhas, que jurei e realmente me dispus
a morrer por toda a causa. Como eu pude fazer tamanha insolência?

Em meu coração uma voz começava a ganhar forças.
Dizia que eu era fraco, que não servia para aquilo, aliás, nunca servi,
era tudo um teatro, tudo falso, eu sempre estava em falta com algo,
o mestre supria o que faltava, agora, eu não tinha mais nada.

Vou voltar para o que eu fazia antes, abandonar tudo por aqui, mais fácil!
Lá eu era bom, eu sabia das coisas, dominava o assunto.

Peguei minhas coisas e fui, subi a bordo e comecei a trabalhar.

Dias se passaram, aquela vida que eu tinha abandonado nunca mais voltaria,
eu estava de volta no meu velho mundo, onde eu tinha a segurança que nada sairia do lugar,
onde era impossível para mim cometer erros.

Até que eu olhei para o monte, para as ondas do mar, o cesto de pães, os peixes.
Olhei para o rasgo na rede.

Tudo me lembrava dele, das nossas histórias juntos, de coisas que eu havia aprendido.
Marcas em meu ser que nunca mais sairiam.

Como se eu carregasse um pedaço dele e ao mesmo tempo tivesse um vazio,
por ele ter levado um pedaço de mim.

Olhei para a areia, fumaça subia aos céus, uma prece feita em silêncio.

- Uma fogueira?
- Quem está lá?

Não consegui mais pensar, a silhueta ao longe era tudo que eu precisava para acreditar!
Pulei na água, fui nadando em sua direção.

Ele me ofereceu comida. E eu nem conseguia olhar em seus olhos.

Com uma voz tão mansa, começou a falar.
Ah como eu ansiava ouvir aquela voz!
Meu coração disparado.

Tudo começou a passar de volta pela minha cabeça, todos os acontecimentos daquela noite.
A janta, o jardim, o sono, nós cansados, dormindo ao léu, sem entender o que estava acontecendo.

De repente tudo acontecendo tão rápido.
Eles chegando, as tochas, as pedras, as espadas, a orelha, os gritos, o frio, o fogo... aarrrggg!

- Pedro! Pedro! Me ouves?

- Sim mestre, estou aqui! - não ousava olhar em seus olhos.

- Pedro, olha pra mim! Olha nos meus olhos e responde!

-Você me ama?

- Sim, te amo, mas, não sou digno... olhe tudo o que eu fiz!

- Pra mim nada mudou, continua na obra.

- Tah, mas e tudo...

- Você me ama? - me interrompeu ele

- Claro que amo, mas... - eu não tinha palavras, estava angustiado demais

- Então faz o que você sempre faz, vai cuidar dos meus...

- mas e ...

- Pra mim nada mudou... - lágrimas, novamente meus olhos cheios de lágrimas

- Você me ama?

- Amo! Amo sim! Amo com tudo o que eu tenho! Com tudo o que sou!

- Então vai!

- Continua a boa obra!

- Não pára!



Durma com este barulho!