Durma Com Este Barulho
Reflexões de um pecador

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Uma Senhora Qualquer (Parte 3)

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"... seria o fim? a vida teria os pregado uma peça? Não... o fim ainda não estava próximo.

Em poucos dias, devido à falta de esperança, seu marido estava adoecido, não queria mais
comer, saiu pelas ruas a chorar a perda de tudo que Deus havia lhe dado. Por alguns dias
a pobre mulher não teve notícias dele, pediu ajuda ao vizinhos, mas nenhum disponibilizou-se
a ajudá-la. Saiu só, rumo ao centro da cidade, procurou entre os mendigos seu marido.

Não sabia o que haveria de ver, se o encontraria morto em algum lugar ou se algo pior, sua
imaginação não havia chego tão longe ainda quando sentiu o impacto.

Vê-lo naquele estado, isolado dos outros mendigos, em um beco úmido e fétido, gritos de
pessoas que passavam perto a alertaram para não se aproximar do homem, pois era um leproso.
Ela não se importou com isso, chegou mesmo assim.

Seu juramento de amor não era apenas uma falácia, iria estar com ele não importando a
dificuldade, estaria auxiliando-o até o fim!

Sabia que quando era nova, não era a mais bela das donzelas da cidade. Dentre suas irmãs,
era a única que não se preocupava tanto com a beleza. Sabia que a graça e a formosura eram
enganosas, seu temor estava no Senhor, servia a seus pais e como todas pensava em seu
futuro marido, mas o quanto o auxiliaria, seu coração estava longe das rodas de intrigas,
e as fofocas da cidade morriam nela, junto com segredos que nunca haviam visto a luz do dia.

Sua mente viaja ao passado no porquê de ter sido escolhida por este homem, no encontro no
mercado, no quanto sofreram juntos para comprar a casa, nas lutas que enfrentaram para ver
os campos ficarem floridos, no primeiro filho... Ah! Meus filhos! Deus! Porque tamanha desgraça?

Volta a si, aproxima-se de seu marido. Está vivo, fedendo, todo sujo, roupas em trapos, com a
pele toda manchada pela doença. Venha comigo homem! Vou fazer algo para limpá-lo! Vou arranjar
comida! Trarei vestes! Vamos!

Seu marido não levantou, apenas sentou-se e agora estava se coçando com um pedaço de barro, um
vaso quebrado. Desespero tomou conta da pobre mulher, cada parte que o marido coçava sangrava e
ele estava tão amortecido pela soma de todas as coisas, e a doença o impedia de sentir dor,
sangue se misturava ao pó da terra.

Seus olhos estavam marejados. Situação cruel aquela, seu marido era um caso perdido, não havia
retorno, nada mais o que se fazer, a morte seria o fim mais acolhedor a ele naquele momento.

Mas ele nunca se entregaria! Conhecia o velho homem a mais de 30 anos e sua integridade era
inabalável, até neste momento ainda a mantinha! Duvidando que conseguiria algo, mas seu coração
já estava em pedaços e sem conseguir pensar direito no que aquilo significaria tentou convencer
o marido a se entregar, a desistir de sua vida.

"Pare de se coçar! Pegue este caco e se mate! Amaldiçoa teu Deus, tua vida, o dia que nasceu, morre!
Não vale a pena sobreviver desse jeito! Não há futuro!"


A resposta, assustada, saiu da boca de seu esposo, com uma firmeza que a trouxe de volta a seus brios.

"Estás doida mulher! Fala como uma inconsequente qualquer! Pense no que Deus nos tem feito!
Até aqui nos ajudou! Não pode Ele, sendo dono de tudo, dar coisas boas e ruins conforme bem lhe aprouver?
Tudo vem dele, o bom e o ruim."


Nada mais precisava ser dito, em suas lágrimas, em sua voz, a dor, mas dentro dela havia um ponto
de alegria. Ele não havia perdido a integridade, seu temor a Deus continuava o mesmo, inabalável,
nem mesmo tudo isso o havia tirado o que eles tinham de mais precioso, o compromisso firmado com
o Senhor a muito tempo.

Um sentimento nostálgico invade o coração da mulher. Três homens com roupas bonitas se aproximam..."

-- X -- X --

Não me levem a sério... mas pensem com outros olhos de vez em quando.

Durma com este barulho!




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